O poder do Capital
Resumo
Má feição no espelho, má feição em cada esquina
sua dor e sua revolta não cabem em teorias.
Mas me recolho por entre livros e compreendo nossa sina.
A sociedade já é bárbara - E é pré histórica ainda.
Nosso taciturno rosto mascarado por maquiagem
É tomado a cada instante pela banalidade do mal
Atravessamos apressados a vida pelo salário
vendo o sorriso triste do palhaço no sinal.
Os guardiões da noite são heróis traumatizados
de lúdicas crianças, a prole da classe baixa
com o ferro na cintura tal qual o homem de farda
Ambos seguindo o jogo de uma vida que os mata.
Esperando a próxima vítima, seu vizinho, seu semelhante
Se antes eram meninos indefesos, hoje são monstruosos traficantes.
Que se espalham feito percevejo nas vielas da cidade.
Eis a mágica ideológica narrando a realidade.
Não é verdadeira a mágica mas o lucro é real
E a dominante classe celebra seu arsenal
encondem-se por entre os muros da cruel burocracia
Nessa relação litúrgica em nossa missa de sétimo dia.
Enquanto o cidadão de bem, não por pura maldade
Se vê aprisionado na mais leiga liberdade
De exercer os direitos conquistados pelos seus impostos pagos.
Descansam ao fim da tarde no consumo do lazer
Cultuando a poesia feita para cego ler.
Não é braile a poesia, nem é cegueira da visão
Pois o cego lê realmente tocando com suas mãos.
A cegueira que relato é a cegueira social
Que o cego da visão também pode ler igual
Nossa cegueira quotidiana é a reprodução do capital.
E o cidadão bem informado - Dentro dos seus olhos rasos
Escolhe - Pelo direito dado,
O mais novo empregado
De suas confusas ambições.
à sua direita hienas, à sua esquerda leões.
Disputando cara e coroa quem assume os balcões.
Mas, qual a face da moeda tem o rosto menos mau?
Se a base que as forja é exatamente igual?
Enquanto o mundo é transformado pela tecnologia
Os trabalhadores alienados são analógicos ainda
E o corpo que é moído pela máquina é real.
Engolidos, sem sentido pelo poder do Capital.
Que produz mercadoria pelo gozo do consumo
E consomem o lazer pelas telas do futuro.
Produz e não se enxergam na produção que de sí fazem
Só se enxergam pelas lentes da dominante sociedade
Que inverte a beleza de viver em exploração
E todo dia morrem por dentro tendo consciência ou não.
O coração é ferido quando se perde a humanidade
Nas relações de produção dessa maldita sociedade.
E há ilustres niguéns - na ilusória realidade
Envaidecidos por obediência prestada às autoridades
Sentem-se cidadãos de média a primeira classe.
tropeçam na falacia do tal empoderamento
Que aumenta a taxa de lucro - no gozo do crescimento.
E esse mal - já nos foi dito nos livros empoeirados
Que contam a verdadeira história dos antigos operários
Só se finda no reconhecimento do comum objetivo
É nítido em todo luta e nas linhas que tenho escrito
Os meninos e meninas dessa sina desigual
seguem o destino da morte nessa lógica social
E os que creem no poder encontram-se já vencidos
Pois o poder que é presumido segue apenas um destino
O poder, solene, segue a ordem desigual
Do senhor de toda a guerra, o poder do Capital.