Ernst Bloch e o Sentido da Utopia
Resumo
Ernst Bloch é o teórico da utopia, embora seja errôneo reduzir seu pensamento a isto, mas é exatamente este o fio condutor de toda a sua obra. Utopia para ele não tem o sentido vulgar de ideias irrealizáveis, sonhos ingênuos, pensamentos quixotescos. Utopia é um dado da realidade. Existe uma tendência no real que mira para o que ainda-não-veio-a-ser. O pensamento que o apreende é utopicamente constituído. Esta é uma dimensão, já observada também por Albornoz (2006) e Bicca (1987, 1997), ontológica do pensamento de Bloch2. Sua ontologia funda-se exatamente neste ponto: há um dado do real que ainda-não-existe. Este ainda-não é instituinte de seu pensamento. Ele não se contenta em discutir somente o que já ocorreu ou o que está em processo. Para ele, isto que ainda está em processo tende para algo que ainda-não aconteceu. Esta dimensão ontológica do ser (natureza, sociedade, indivíduo, pensamento etc.) é constituinte do real. O que é, é também prenhe do que ainda-não-é, ou seja, que pode vir-a-ser. Este movimento de mudança, de tendência para o novo que está presente na natureza (natura naturans) (BLOCH, 1984), no indivíduo, na sociedade e na produção cultural (BLOCH, 2005; 2006a; 2006b) tem também seu correlato na dimensão ética. Assim, a ontologia de Bloch desemboca numa ética, uma “ética da transformação” (ALBORNOZ, 2006).
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